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Práticas de Ciência Aberta na China: obstáculos e oportunidades

por Nivaldo Calixto Ribeiro e Dalgiza Andrade Oliveira*


Apesar dos obstáculos, China caminha com a implementação de infraestrutura de Ciência Aberta no país. Embora, pareça proporcionar mais transparência, eficiência, reprodutibilidade a pesquisas científicas, nem sempre garantem a sua rápida adoção nos mais diversos país.

A China, uma das grandes potências econômicas mundiais, caminha com a implementação de infraestrutura de Ciência Aberta, concentrando-se em periódicos de acesso aberto e compartilhamento de dados (ZHANG et al., 2022). Considerando uma série de dados estatístico, o pesquisador Yang (2022) expõe que o status atual da Ciência Aberta e inclusiva, na China, está emergindo com uma proposta de atuação importante voltada para esse movimento mundial.

Os esforços para promover e praticar a Ciência Aberta alcançaram bons resultados, entretanto, ainda há espaço para melhorias, uma vez que resultado de anos de investimento dos cientistas chineses demonstraram a sua vontade de abraçar ao movimento de abertura da ciência (JIA, 2017).

A Academia Chinesa de Ciências, maior instituição científica daquele país e a Fundação Nacional de Ciências Naturais da China, principal agência de fomento à pesquisa, foram as primeiras signatárias da Declaração de Berlim sobre o Acesso Aberto ao Conhecimento nas Ciências e Humanidades, de 2003 e, concordaram que os resultados da pesquisa deveriam ser disponibilizados online gratuitamente a todos (JIA, 2017).

Cientistas da China aceitam a Ciência Aberta em um nível conceitual, mas seu engajamento prático é dificultado por quatro barreiras: 1. reputação dos seus periódicos de acesso aberto; 2. ausência de um consórcio nacional que possa trabalhar com grupos editoriais internacionais para liquidar os custos e direitos de seus leitores e autores; 3. diferença entre os custos atuais de assinatura e os custos internacionais; e 4 ausência de um caminho bem definido para os periódicos continuarem seu desenvolvimento sob uma conversão global de acesso aberto (YANG, 2022).


No entendimento de Jia (2017), alguns defensores da Ciência Aberta estão decepcionados com o progresso da China na última década. Esses defensores entendem que parte do motivo é a política rígida de regulamentação de publicação e controle de informações do país, incluindo firewalls, pois sua presença impossibilita que os pesquisadores usem algumas plataformas de redes sociais para compartilhar informações com colegas internacionais e o público. Além disso, o autor entende que o controle restrito do governo sobre os editores trouxe alguns problemas ao segmento de publicações de acesso aberto da China. Por exemplo, uma das vantagens de uma versão online de um periódico de acesso aberto é a economia com os custos de impressão dos editores. Porém, no país, os periódicos e revistas exigem uma licença de publicação e o governo estabelece que todo o conteúdo da maioria dos periódicos seja impresso, gerando custos mais altos de produção.

Alguns títulos de periódicos não permitem a cópia do conteúdo do artigo, o que também impedia os cientistas de publicarem artigos em periódicos de acesso aberto (LY, 2015). No exterior, geralmente, utilizam licenças alternativas, como as Creative Commons, permitindo que o conteúdo seja compartilhado e copiado sob assinaturas indicadas (JIA, 2017).

De acordo com Ly (2015), em 2014, a Academia Chinesa de Ciências e a Fundação Nacional de Ciências Naturais da China publicaram sua política de acesso aberto e anunciaram que os pesquisadores financiados pelo Instituto deveriam enviar uma cópia de suas pesquisas para uma base de conhecimento online disponível ao público 12 meses após a publicação. Contudo, anos depois, muitas universidades ainda não tinha uma base de conhecimento ou não houve o envolvimento de muitos cientistas. Atualmente, o Directory of Open Access Repositories - OpenDOAR (2022) inclui 65 instituições chinesas com bases de conhecimento constituída de repositórios institucionais cadastrados.

Para os cientistas que desejam compartilhar seus resultados de pesquisa, o firewall da internet na China pode ser considerando um obstáculo. Contar o número de vezes que um artigo aparece em reportagens e menções em mídias sociais por meio de plataformas como a Altmetrics é uma maneira emergente de medir a influência dos trabalhos acadêmicos. Entretanto, no país, isso é dificultado, pois requer acesso a sites (JIA, 2017).

Em outubro de 2017, as principais instituições científicas da China, afirmaram a importância do acesso aberto à pesquisa e comunicação científica, ao ingressar no mundo global. De acordo com Schiermeier (2018), ao fazer isso, essas instituições chinesas se uniram a diversas outras organizações acadêmicas que apoiaram o acesso aberto, mostraram apoio à iniciativa e assumiram o compromisso de redirecionar os fundos atualmente gastos em assinaturas de revistas para modelos sustentáveis e abertos.

Embora, as práticas de Ciência Aberta pareçam proporcionar mais transparência, eficiência, reprodutibilidade a pesquisas científicas, nem sempre garantem a sua rápida adoção nos mais diversos país. No caso em tela, na China, alguns obstáculos são relatados e replicam a problemática de outros países. Entretanto, observa-se que ações têm sido desenvolvidas para saturar essa demanda de esfera mundial.


Referências


DIRECTORY OF OPEN ACCESS REPOSITORIES - OPENDOAR. Statistics: growth of OpenDOAR. [S. l. : s. n.], 2022. Disponível em: https://v2.sherpa.ac.uk/view/repository_visualisations/1.html. Acesso em: 2 nov. 2022.


JIA, H. Keeping a lid on open science. Nature, London, 545, S62–S64 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1038/545S62a. Acesso em: 2 nov. 2022.


LY, J. A window into open access publishing in China. BioMed Central, [S. l. ], Aug 2015. Disponível em: https://blogs.biomedcentral.com/bmcblog/2015/08/07/window-open-access-publishing-china. Acesso em: 2 nov. 2022.


SCHIERMEIER, Q. China backs bold plan to tear down journal paywalls. Nature, London, v. 564, p. 171-172, Dec. 2018. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-018-07659-5. Acesso em: 2 nov. 2022.


YANG, Wei. Open and inclusive science: a chinese perspective. Cultures of Science, [S. l. ], v. 4, n. 4, 20 jan. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1177/20966083211073173. Acesso em: 2 nov. 2022.


ZHANG, Xiyuan et al. Open science in China: openness, economy, freedom & innovation. Educational Philosophy and Theory, [S. l. ], 30 Sep 2022. DOI: 10.1080/00131857.2022.2122440. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00131857.2022.2122440?tab=permissions&scroll=top. Acesso em: 2 nov. 2022.


Dados biográficos do autor


Nivaldo Calixto Ribeiro é doutorando em Gestão e Organização do Conhecimento pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Administração. Graduação em Biblioteconomia e Especialista em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação pelo Centro Universitário de Formiga. Estuda Comunicação científica aberta / Ciência Aberta. Atualmente é bibliotecário-documentalista na Universidade Federal de Lavras.

E-mail: zoopas@gmail.com

Dalgiza Andrade Oliveira é professora Associada da Escola de Ciência da Informação (ECI)/Programa de Pós-Graduação em Gestão da Organização e do Conhecimento (PPGGOC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da UFMG (2011). Mestre em Ciência da Informação (PPGCI/UFMG-2005). Bacharel em Biblioteconomia (Escola de Biblioteconomia - UFMG-1991).

E-mail: dalgizamg@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-0814-6325

 

Como citar:


RIBEIRO, Nivaldo Calixto; OLIVEIRA, Dalgiza Andrade. Práticas de Ciência Aberta na China: obstáculos e oportunidades. Ciência da Informação Express, [S. l.], v. 3, 18 nov. 2022.

 

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