uma perspectiva voltada para a diversidade de usuários
Por Michelle Karina Assunção Costa*
Dalgiza Andrade Oliveira**
A presença de discentes com deficiência vem crescendo nas Instituições de Ensino Superior, de acordo com o Censo da Educação Superior (2017), e essa realidade tende a impactar na maneira em que se realiza, atualmente, a gestão de bibliotecas universitárias.
Audiodescrição: imagem em tons azul contendo losangos com ilustrações que representam diversos tipos de deficiências.
Fonte: Banco de imagens do Pixabay. Considera-se que, os dados do Censo da Educação Superior (2017) acerca das matrículas de discentes com deficiência no ensino superior possam ser indicadores que sinalizam para uma reflexão acerca da gestão de bibliotecas universitárias. Dado que, permitirá avaliar serviços, produtos, o atendimento, qualificação da equipe dentre outros aspectos na perspectiva da diversidade dos usuários da informação. Pois, as unidades de informação (UI) além de prestarem serviços de informação para pessoas sem deficiência atendem ou podem vir a atender discentes que se declaram com deficiência física, baixa visão, deficiência auditiva, cegueira, surdez, deficiência intelectual, superdotação, deficiência múltipla, autismo, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo, surdocegueira e síndrome de Rett. Essas tipologias de deficiência são mencionadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Segundo Almeida (INEP, 2017) tendo sido declaradas pelos discentes que participaram do referido Censo. Ainda, acerca dos indicadores e refletindo sobre a sua importância na gestão das bibliotecas universitárias, eles podem ser definidos como:
[...] variáveis, características ou atributos capazes de sintetizar, representar ou dar maior significado ao que se quer avaliar. Os indicadores transformam os objetivos e resultados em parâmetros concretos, passíveis de verificação. Dessa forma, permitem avaliar mudanças (ALMEIDA, 2009, p. 21).
Sendo assim, para uma avaliação das bibliotecas universitárias na perspectiva da inclusão e da acessibilidade considera-se que, a partir do momento que os gestores têm a informação dessa realidade no âmbito das Instituições de Ensino Superior (IES), compreende-se que as bibliotecas universitárias podem ser avaliadas nessa perspectiva no intuito de diminuir ou até eliminar barreiras nos espaços físico e/ou virtual efetivando, assim, o seu papel social. E nesse contexto social, Cunha (2003) explicita que as funções exercidas pelos bibliotecários são cada dia mais diversificadas e que dentro desta diversidade não se pode esquecer da relevância do seu papel na sociedade. O autor acrescenta ainda algumas premissas, a saber: se as necessidades de informação dos cidadãos em uma biblioteca são atendidas isso se refletirá na conquista dos direitos básicos de cidadania; o atendimento as demandas dos pesquisadores refletirão no progresso científico do país; um atendimento eficaz de alunos pode incentivar o gosto pela leitura, prazer pelo estudo e despertar a curiosidade por novas descobertas entre outras.
Nesse contexto, entende-se que é indispensável incluir nessas premissas os usuários com deficiência e com suas especificidades para utilizar as bibliotecas universitárias para atingir seus objetivos e a missão das UI. Destaca-se, portanto, que as dimensões da acessibilidade – arquitetônica, atitudinal, comunicacional, metodológica, pragmática, instrumental, à informação e a acessibilidade ao mobiliário e equipamentos (SASSAKI, 2006; NICOLETTI, 2010) precisam ser contempladas no dia a dia. Em face do exposto, uma gestão inclusiva em bibliotecas universitárias tenderá a eliminar barreiras no acesso, uso e busca da informação para que todas as pessoas tenham alcance as fontes informacionais de maneira autônoma e segura sem que haja interferências de aspectos fisiológico, educacional, profissional, cultural e social (SANTOS; ARAÚJO, 2015).
Neste sentido, infere-se que diante das especificidades do usuário da informação que tem deficiência para a busca, uso e acesso à informação diante das tipologias de deficiência essa situação possa vir a ser um desafio para os bibliotecários e demais membros da equipe para atuarem e realizarem a gestão de bibliotecas. E, consequentemente, tem a inevitabilidade de adotarem uma nova postura para se relacionar, aceitar o outro na sua alteridade, e assim, eliminar uma das barreiras mais difíceis para a disponibilização de espaços sociais acessíveis que é sobretudo, a atitudinal. Nesse cenário apreende-se que será importante a aquisição do conhecimento acerca das tecnologias assistivas e de questões que contemplem a deficiência e suas especificidades e que influenciará na produção de materiais acessíveis, atendimento prioritário, a implementação da acessibilidade em suas variadas dimensões etc. bem como no cumprimento da legislação brasileira acerca dos direitos das pessoas com deficiência (PCD) e a sua cidadania (BRASIL, 2015).
A presente reflexão fundamenta-se nos subsídios legais brasileiros, em marcos históricos nacionais e internacionais e em resultados de investigações na Ciência da Informação (CI), para pesquisa de doutorado em andamento, que as PCD, ainda, se deparam com barreiras e a inacessibilidade nos espaços das bibliotecas. Visualiza-se um quantitativo considerável de estudos acerca das deficiências visual e física, mas que deixam de contemplar outros tipos de usuários da informação que podem ter deficiências invisíveis e menos conhecidas, socialmente, e que frequentam e estão no entorno das bibliotecas universitárias.
Referências
ALMEIDA, M. C. B. Planejamento de bibliotecas e serviços de informação. Brasília: Briquet de Lemos Livros, 2005.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 15 mar. 2021.
CUNHA, M. F. V. da. O papel social do bibliotecário. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, [S. l.], v. 8, n. 15, p. 41-46, 2003. DOI: 10.5007/1518-2924.2003v8n15p41. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2003v8n15p41. Acesso em: 7 abr. 2021.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Resumo técnico do Censo da Educação Superior 2017. 2019. Disponível em http://portal.inep.gov.br/informacao-da-publicacao/-/asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/6725796. Acesso em: 30 mar. 2021.
NICOLETTI, T. F. Checklist para bibliotecas: um instrumento de acessibilidade. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2010.
SANTOS, C. G.; ARAÚJO, W. J. Acessibilidade informacional: um estudo sobre configurações de segurança em objetos digitais acessíveis segundo análise de aceitação por pessoas com deficiência visual. Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia, João Pessoa, v. 10, n. 2, p. 209-222, 2015. DOI: https://doi.org/10.22478/ufpb.1981-0695.2015v10n2.26227. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/pbcib/article/view/26227. Acesso em: 7 abr. 2021.
SASSAKI, R. K. Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 2006.
Dados biográficos das autoras
* Michelle Karina Assunção Costa é doutoranda no Programa de Pós-Graduação Gestão & Organização do Conhecimento na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Ciência da Informação pela UFMG, Especialista em Gestão de Pessoas na FATEC-BH (2012) e Administração de Sistemas de Informação pela Universidade Federal de Lavras - UFLA (2005), Bacharel em Biblioteconomia com ênfase em Gestão da Informação pela UFMG (2002). Atualmente, é Bibliotecária na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
michelleassuncao@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-8419-2908
** Dalgiza Andrade de Oliveira é Professora Associada da Escola de Ciência da Informação (ECI)/Programa de Pós-Graduação em Gestão da Organização e do Conhecimento (PPGGOC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da UFMG (2011). Mestre em Ciência da Informação (PPGCI/UFMG-2005). Bacharel em Biblioteconomia (Escola de Biblioteconomia - UFMG-1991).
E-mail: dalgizamg@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2803696275869287
Como citar
COSTA, M. K. A.; OLIVEIRA, D. A. Novos desafios e novas posturas na gestão de bibliotecas universitárias: uma perspectiva voltada para a diversidade de usuários. Ciência da Informação Express, [S. l.], v. 2, n. 4, 16 abr. 2021. Disponível em: https://www.cienciadainformacaoexpress.com/post/novos-desafios-e-novas-posturas-na-gest%C3%A3o-de-bibliotecas-universit%C3%A1rias
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