English version Entrevista / Interview
Nancy Pontika é PhD em Acesso Aberto pela Escola de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Simmons University, em Boston. Suas principais áreas de interesse são acesso aberto, Ciência Aberta, pesquisa responsável, inovação e o papel da mineração de texto e dados da literatura científica em acesso aberto. Atualmente, é oficial de agregação de conteúdo em acesso aberto no CORE, um serviço que agrega milhões de artigos de pesquisa em acesso aberto, financiado conjuntamente pela The Open University e pela Jisc. Já trabalhou para o Repositories Support Project (RSP) e como gerente de repositório na Royal Holloway, University of London. Esteve envolvida em quatro projetos europeus, FOSTER e FOSTER Plus, OpenMinTeD, FIT4RRI e ON-MERRIT. Ela também atua como editora do Open Access Directory e colaboradora do Open Access Trackin Project. Ela é a primeira autora da Open Science Taxonomy, que tem mais de 13.350 visualizações e 1.100 downloads no Figshare, enquanto o artigo correspondente recebeu mais de 108 citações, de acordo com a contagem do Google Scholar, desde 2015.
Fonte: Pontika et al. (2015), para ver a versão em português acesse aqui.
Nancy Pontika também criou o curso Introdução à Open Science para o projeto FOSTER e o curso Introdução à Mineração de Texto e Dados para o projeto OpenMinTeD. Este último é dirigido a funcionários não técnicos de apoio à pesquisa e visa, com exercícios práticos, auxiliá-los na compreensão do conceito de Mineração de Texto e Dados, um campo vem ganhando atenção de financiadores e pesquisadores. Em 2019, Nancy integrou o grupo de autores(as) que ganharam o Prêmio Vannevar Bush de melhor artigo, por Do authors deposit on time? Tracking open access policy compliance (HERRMANNOVA; PONTIKA; KNOTH, 2019), apresentado na Joint Conference on Digital Libraries.
No início de dezembro de 2021, Nancy Pontika, gentilmente, cedeu uma breve entrevista ao Ciência da Informação Express - CIEXpress abordando a Ciência Aberta e sua taxonomia, algumas questões profissionais sobre acesso aberto e muito mais sobre o futuro da Ciência. Confira!
1 O que mudou na Open Science após a publicação da Open Science Taxonomy?
Receio que não houve mais estudos após essa taxonomia, portanto, não posso dar uma resposta oficial. O volume do conteúdo aumentou em relação aos termos da taxonomia. Aqui, no Reino Unido, onde trabalho, também vejo que há muito progresso no que diz respeito à reprodutibilidade, por exemplo, por meio do UK Research and Innovation (UKRI).
2 Você esperava o grande impacto desse trabalho no cenário mundial?
Sim, esperávamos um alto impacto e acredito que a taxonomia o recebeu. Ele tem sido muito utilizada nas apresentações da União Europeia e esse é o documento mais citado que eu tenho até agora. Ele é citado por autores em muitas línguas, não apenas em inglês. Aqui está a página de resumo do artigo e as citações. Além disso, também foi traduzido para diversos outros idiomas.
3 Depois de tanto tempo, na sua opinião, qual faceta mais evoluiu e qual precisa de mais atenção da comunidade científica?
Novamente, não fizemos nenhuma pesquisa, portanto, o que estou dizendo aqui é minha opinião pessoal, baseada em como estou vendo o assunto evoluindo. Por exemplo, os tópicos de Acesso Aberto ainda são muito populares, com gestores de pesquisa, autores, financiadores etc. preocupando-se com eles. Gradualmente, estamos percebendo que Dados Abertos também estão aumentando a atenção, cada vez mais com políticas de Dados Abertos sendo lançadas, tanto de instituições quanto de financiadores. Ao mesmo tempo, as Políticas de Ciência Aberta também estão aumentando, de muitos financiadores, tanto nacional e internacionalmente. Em geral, como não tenho dados de pesquisa, não posso ter certeza, mas mesmo assim há progresso.
4 Hoje, a taxonomia desenvolvida na Foster ainda representa totalmente a Ciência Aberta?
Eu diria que sim!!!
5 Como você está praticando Ciência Aberta atualmente?
Pessoalmente, estou publicando meus artigos em acesso aberto e compartilhando meus dados abertamente. A nível profissional, trabalho para projetos financiados pela União Europeia em Ciência Aberta, por exemplo, um projeto que terminará em março próximo é o ON-Merrit[1], que tenta investigar o “Efeito Mateus” na Ciência Aberta. Ao mesmo tempo, trabalho para a CORE[2] , uma colhedora global de conteúdo de acesso aberto. Também estou envolvida em outras iniciativas voluntárias, como a Open Research Competencies Coalition (UKCoRR)[3] e o Open Access Directory (OAD)[4] , onde sou a editora.
6 Quais dificuldades você encontrou na criação da taxonomia e ao defender o Acesso Aberto, em 2007, quando iniciou as suas atividades com essa temática?
Eu diria que o maior desafio relacionado à taxonomia em si foi receber "luz verde" de todos no consórcio, sobre a ordem dos termos da taxonomia. Essa taxonomia não é a única maneira pela qual as informações podem ser apresentadas e sabemos que não é perfeita. Mesmo assim, tivemos que tomar uma decisão em algum momento e publicá-la. Portanto, tivemos que ignorar que havia, e de fato ainda existem, diferentes formas de organizá-la e chegar a uma versão que a grande maioria do consórcio concordou.
Em 2007, comecei meu PhD em Acesso Aberto em Boston, EUA. Naquela época, quando eu fazia uma apresentação em defesa dos direitos de acesso aberto, alguns acadêmicos não me entendiam e outros riam de mim e apenas alguns deles me ouviam. Na verdade, nesse ponto, era muito mais fácil convencer os alunos de mestrado da Escola de Biblioteconomia a os acadêmicos. Isso continuou ao longo dos anos e mesmo depois do meu doutorado. Quando eu trabalhava no Royal Holloway, University of London, como gerente de repositório e defensora do acesso aberto, alguns pesquisadores estavam se opondo ao conceito de acesso aberto. Mas logo isso mudou, os financiadores têm promovido a Ciência Aberta e agora é a norma. Eu realmente sinto que temos um longo caminho até que a Ciência Aberta e todas as suas práticas se tornem realidade. Não devemos desistir, mas sim tentar criar os processos, ferramentas e encontrar os argumentos certos para convencer os pesquisadores, pois o conhecimento não deve ser vendido (principalmente nesses preços altíssimos, com double-dipping etc.).
7 O que você sugere para jovens pesquisadores?
Para ser o mais aberto possível. Há algum tempo, escrevi um artigo para pesquisadores em início de carreira (PONTIKA, 2015).
8 E o que você sugere para os pesquisadores que estão lutando para mudar?
Novamente, para ser o mais aberto possível. Para ouvir seus gestores de apoio à pesquisa, orientadores, seguir o Acesso Aberto e as práticas de Ciência Aberta de seus colegas pesquisadores que lideram e atuam como embaixadores e não temerem mudanças. Seguir as iniciativas mais recentes, por exemplo, Declaração sobre Avaliação da Pesquisa (DORA)[5]. No entanto, essa mudança não ocorre apenas nesse nível; é preciso haver uma combinação de atividades de baixo para cima e de cima para baixo. Sintam-se à vontade para ler nosso artigo mais recente sobre o assunto (PONTIKA, 2015).
Notas
[1] ON-MERRIT é um projeto de 30 meses financiado pela Comissão Europeia para investigar como e se práticas de pesquisa abertas e responsáveis podem piorar as desigualdades existentes.
[2] CORE é um serviço prestado pelo Knowledge Media Institute, sediado na The Open University, no Reino Unido, que busca agregar todas as pesquisas de Acesso Aberto em todo o mundo e fornecer acesso irrestrito para todos.
[3] UKCoRR é um organismo independente para gerentes de repositório, administradores e equipe no Reino Unido que: promove a gestão de repositórios como uma profissão reconhecida e respeitada; oferece um fórum para discussão e troca de experiências; representa as opiniões e preocupações daqueles que trabalham com repositórios no desenvolvimento organizacional, político e estratégico.
[4] OAD é um compêndio de listas factuais simples sobre o acesso aberto à ciência e à bolsa de estudos, mantido pela comunidade acesso aberto em geral.
[5] A DORA reconhece a necessidade de melhorar as maneiras como os pesquisadores e os resultados da pesquisa acadêmica são avaliados.
Referências
HERRMANNOVA, Drahomira; PONTIKA, Nancy; KNOTH, Petr. Do Authors Deposit on Time? Tracking Open Access Policy Compliance. In: IEEE/ACM Joint Conference on Digital Libraries(JCDL), 2-6 Jun 2019, Urbana-Champaign, IL, pp. 206–216.DOI: https://doi.org/10.1109/JCDL.2019.00037. Acesso em: 3 dez. 2021.
KNOWLEDGE MEDIA INSTITUTE. Athena SWAN @KMi Celebrating The OU's 50. Milton Keynes, 2017. Disponível em: http://kmi.open.ac.uk/festival/athena-swan/. Acesso em: 3 dez. 2021.
PONTIKA, Nancy. Open Access: What’s in it for me as an early career researcher? Journal of Science Communication, v. 14, n. 4, 15 dec. 2015. DOI: https://doi.org/10.22323/2.14040304. Disponível em: https://jcom.sissa.it/archive/14/04/JCOM_1404_2015_C01/JCOM_1404_2015_C04. Acesso em: 3 dez. 2021.
PONTIKA, Nancy. People. Milton Keynes, 2021. Disponível em: http://kmi.open.ac.uk/people/member/nancy-pontika. Acesso em: 3 dez. 2021.
PONTIKA, N. et al. Fostering open science to research using a taxonomy and an elearning portal. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON KNOWLEDGE TECHNOLOGIES AND DATA-DRIVEN BUSINESS, 15., 2015. Proceedings... Graz, Áustria: Association for Computing Machinery, 2015. Disponível em: http://oro.open.ac.uk/44719/. Acesso em: 12 fev. 2020.
RIBEIRO, Nivaldo Calixto; SILVEIRA, Lúcia da; SANTOS, Sarah Rúbia de Oliveira. Taxonomia da Ciência Aberta. [Traduzido e adaptado de] Pontika et al. (2015). Título original: Open Science Taxonomy. Disponível em: https://doi.org/10.6084/m9.figshare.12124002.v4. Acesso em: 12 fev. 2020.
ROSS-HELLAUER, T., REICHMANN, S., COLE, N. L., FESSL, A., KLEBEL, T., & PONTIKA, N. Dynamics of cumulative advantage and threats to equity in open science: a scoping review. Jul. 2021. DOI: https://doi.org/10.31235/osf.io/d5fz7. Acesso em: 12 fev. 2020.
SILVEIRA, L. da; RIBEIRO, N. C. .; SANTOS, S. R. de O. .; SILVA, F. M. de A. .; SILVA, F. C. C. da; CAREGNATO, S. E. .; OLIVEIRA, A. C. S. de .; OLIVEIRA, D. A. .; GARCIA , J. C. R. .; ARAÚJO, R. F. . Ciência aberta na perspectiva de especialistas brasileiros: proposta de taxonomia. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, [S. l.], v. 26, p. 1-27, 2021. DOI: 10.5007/1518-2924.2021.e79646. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/79646. Acesso em: 7 dez. 2021.
Fonte: Ribeiro, Silveira e Santos (2020) e Silveira et al. (2021)
Como citar
PONTIKA, N. Nancy Pontika e a seminal Open Science Taxonomy . [Entrevista cedida a] Nivaldo Calixto Ribeiro. Ciência da Informação Express, [S. l.], v. 2, n. 12, 15 dez. 2021.
Agradecimento
Agradecimentos a Nancy Pontika pela gentileza em responder as questões nessa breve entrevista.
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