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Estratégias de Produção Científica

Atualizado: 12 de mai. de 2021

Por Simone da Rocha Weitzel*


O acesso aberto aos resultados de pesquisas é muito importante para situações como a que agora estamos vivendo. Com acesso a estudos existentes há décadas, a cura e o tratamentos da covid-19 poderiam ser acelerados.


O acesso aberto tem como princípio o acesso amplo e irrestrito, isto é, sem pagamento para acesso aos resultados de pesquisas publicados em revistas científicas. Esse conhecimento científico é produzido por universidades e institutos de pesquisa, muitas vezes financiados com recursos públicos.


O acesso aberto é muito importante em situação como agora estamos vivendo, com a pandemia da Covid-19. Pesquisadores poderiam ter acesso amplo ao estado da arte do Coronavírus. De acordo com Larivière, Fei e Sugimoto (2020) são pesquisas que existem há décadas, em um campo multidisciplinar, e isso facilitaria muito a velocidade de buscas, de soluções e de tratamentos da covid-19. No entanto, a maioria dessas publicações não está disponível em acesso aberto. Pelo contrário, é preciso pagar para acessar. Seja por meio de assinaturas das revistas científicas, que variam em torno de 3 a 5 mil dólares anuais, ou por meio da aquisição de artigos por demanda, que também varia muito o valor e pode chegar a 60 dólares ou mais. Muitas editoras dessas revistas científicas "abriram" o acesso a artigos científicos que envolvem pesquisas sobre o Coronavírus. Mas esse acesso é controlado a um certo número de títulos e se limita a resultados de pesquisas mais recentes, impossibilitando o amplo acesso às variadas áreas que pesquisam o tema há décadas. É uma espécie de prévia que, no final das contas, estimula que mais instituições paguem para acessar o que está restrito.


As estratégias do acesso aberto, ao contrário, não exigem o pagamento nem para publicar nem para acessar, pois a lógica está baseada nas próprias fontes produtoras. De acordo com a Budapest Open Access Initiative (BOAI), lançada em 2002, são duas as estratégias que se complementam. De um lado, os resultados de pesquisa deveriam ser publicados em periódicos de acesso aberto, estratégia denominada na ocasião como Via Dourada (HARNAD, 2004). De outro, se o/a pesquisador/a escolhesse um periódico restrito para publicar seus resultados de pesquisa, ele/a deveria depositar uma versão preliminar ou já revista por pares, conforme a política editorial da revista, em um repositório da sua própria instituição (repositório institucional) ou temático (dedicado a um campo do conhecimento). Esta estratégia foi denominada de Via verde por Harnad e outros (2004).


Hoje, a nomenclatura das estratégias de acesso aberto foi aprimorada na edição da BOAI-10, quando completou dez anos desde o seu lançamento, para Acesso Aberto Dourado (Via Dourada) e Acesso Aberto Verde (Via Verde). Essa mudança pode ser entendida como uma forma de fortalecer as estratégias do acesso aberto nos termos estabelecidos no BOAI, desvinculando-as do modelo híbrido praticado pelas editoras comerciais. O conceito de "acesso aberto" foi apropriado por essas editoras de periódicos restritos que transformaram-no em um negócio lucrativo baseado no pagamento de taxas para publicar, denominada de Article Processing Charges (APC). Isto é, o/a autor/a paga para publicar em "acesso aberto" o equivalente ao valor das assinaturas de tais periódicos garantindo, portanto, duplos ganhos e lucros para essas editoras comerciais: seja por meio das assinaturas ou por meio das APCs, além dos artigos que estão disponíveis para venda sob demanda.


Referências


BUDAPEST OPEN ACCESS INITIATIVE. Read the Budapest Open Access Initiative. Budapeste, 2002. Disponível: https://www.budapestopenaccessinitiative.org/read. Acesso em: 19 abr. 2021.


BUDAPEST OPEN ACCESS INITIATIVE. Ten years on from the Budapest Open Access Initiative: setting the default to open. Budapest, 2012. Disponível em:

HARNAD, S. et al. The Access/Impact Problem and the Green and Gold Roads to Open Access. Serials Review, [s.l.], v. 30, n. 4, p. 310-314, 2004.

LARIVIÈRE, V.; FEI, S.; SUGIMOTO, C. R. O surto de coronavírus (COVID-19) ressalta sérias deficiências na comunicação científica. Scielo em Perspectiva, [s.l.], 12 mar. 2020. Disponível em: https://blog.scielo.org/blog/2020/03/12/o- surto-de-coronavirus-covid-19-ressalta-serias-deficiencias-na-comunicacao- cientifica/#.Xm0kBqNKhdg. Acesso em: 12 mar. 2020. Publicado originalmente no LSE Impact Blog em março/2020.



Dados biográficos da autora


* Professora Associada IV da Escola de Biblioteconomia e do Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia (PPGB) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), doutora em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo, Mestra em Ciência da Informação pelo convênio Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia/Universidade Federal do Rio de Janeiro e Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal Fluminense. Atua nas áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação com ênfase em desenvolvimento de coleções, comunicação científica e acesso aberto.

E-mail: sweitzel@unirio.br

Lattes: http://lattes.cnpq.br/9686940788640111

 

Como citar


WEITZEL, S. R. Estratégias de Produção Científica. Ciência da Informação Express, [S. l.], v. 2, n. 4, 26 abr. 2021. Disponível em: https://www.cienciadainformacaoexpress.com/post/estrat%C3%A9gias-de-produ%C3%A7%C3%A3o-cient%C3%ADfica

 

Teaser

Marcha Virtual pela Ciência - Simone Weitzel (UNIRIO)

Acesso Aberto Dourado (Via Dourada) e Acesso Aberto Verde (Via Verde)



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