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Embedded librarian: rompendo as barreiras da função do bibliotecário guardião do conhecimento

Atualizado: 25 de jun. de 2021

Nivaldo Calixto Ribeiro


Bibliotecas pertencem à nossa modernidade, onde o tempo não cessa de acumular e nem alcança o seu auge (FOUCAULT, 1984). Essa situação pode ser comparada ao fenômeno da internet, que funciona em condições não hegemônicas. O uso incessante de informações e recursos disponíveis na web, por pesquisadores e pela comunidade em geral, reverberam o papel do embedded librarian, uma nova forma de atuação dos bibliotecários.

A biblioteca pode ser considerada como um espaço de preservação e conservação da produção documental gerada no passado, como fonte de informação para uma compreensão aprofundada do presente (CASTRO, 2006). De acordo com o autor, observando esta perspectiva, entende-se que o bibliotecário assumiu o status de guardião do conhecimento, por meio da posse e uso de instrumentos teóricos, técnicos e tecnológicos que o qualificam para tal atribuição. Entretanto, verifica-se que, com o surgimento do quarto paradigma ou a ciberinfraestrutura suas atividades foram impactadas, ampliando o escopo de sua atuação e a sua capacidade para contribuir com a desterritorialização do acervo sob sua tutela, por meio do uso de recursos tecnológicos, exigindo sua atuação fora dos muros da biblioteca, favorecendo as atividades do embedded librarian. Nota-se que as bibliotecas têm se transformado em espaços de aprendizagem, onde a cultura também é disseminada e compartilhada por meio de serviços, propostas e atividades diversas.


O termo embedded librarian tem sua origem na língua inglesa e ainda não existe um uma expressão em português consolidada na literatura da área e tem relação direta com as expressões: bibliotecário de enlace, liaison librarian, personal librarians, bibliotecário integrado, bibliotecário embutido, bibliotecário conectado, bibliotecário incorporado, bibliotecário embarcado, procurador informacional, bibliotecário de dados entre outros. Este profissional consiste na prestação de serviços de informação e conhecimento altamente especializados e personalizados, com grande valor agregado para um grupo de usuários com necessidades informacionais bem definidas (SHUMAKER, 2012).


Em busca simples pelo termo embedded librarian na base de dados Web of Science, no dia 14 de janeiro de 2021, foram recuperados 286 títulos sobre o tema e a primeira publicação foi em 1994. Apesar de que, no Brasil sejam identificadas práticas similares às desenvolvidas pelo embedded librarian, na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI) não foram identificadas menções ao termo e suas variações para língua portuguesa, o que indica a ausência da produção e desenvolvimento de pesquisas sobre o tema. Apesar deste resultado, Caridad-Sebastián e Martínez-Cardama (2013) afirmam que a colaboração biblioteca-professor para o ensino e a aprendizagem tem funcionado desde a década de 1970, principalmente nos Estados Unidos.


A base para modelo de serviço do embedded librarian está no estabelecimento de relações próximas a grupos de usuários bem definidos e a visibilidade do bibliotecário nos ambientes de trabalho destes usuários. Para o seu desempenho é fundamental que desenvolva habilidades para mais envolvimento com seu público, tornando-se parte da equipe e colaborando para resolver e antecipar os problemas de informação deste grupo de usuários. Portanto, conforme Shumaker e Talley (2010), deve-se manter o foco no usuário e não na biblioteca e considerar um posto de trabalho externo à biblioteca, em laboratórios de pesquisa ou escritórios próximos aos grupos que demandam de seus serviços, embora o trabalho remoto tradicional da biblioteca possa ser desenvolvido simultaneamente.


Entre os serviços que podem ser prestados pelo embedded Librarian, podem ser citados: investigação em profundidade; inteligência competitiva; formação no âmbito de trabalho do grupo de usuários; análise de dados; gestão do conhecimento; gerenciamento de conteúdo; serviços de informação; desenvolvimento de bases de dados estruturadas; manipulação de dados por meio de aplicativos para análises; gestão de redes e repositórios de documentos, além de ministrar sessões de treinamento, apoio à pesquisa e desenvolvimento de coleções para seus departamentos (BERTOLINI, 2013). Espera-se que este profissional estabeleça uma ponte de comunicação entre as bibliotecas e seu departamento e vice-versa, para fornecer suporte para a aprendizagem, o ensino, a pesquisa e até mesmo a extensão.


Quando se trata do embedded Librarian, considera-se importante abordar o que são os serviços de referência, função tradicional prestada em grande parte das bibliotecas, evidenciando que não são considerados serviços que se sobrepõem, mas que se complementam. Para Grogan (1995), o serviço de referência consiste na assistência efetivamente prestada ao usuário, procurando fornecer acesso rápido e seguro à informação, cumprindo sua missão de informar os usuários, atendendo-o prontamente, perpassando, a coleção de referência de uma biblioteca, auxiliando os pesquisadores na revisão da literatura, na identificação de materiais relevantes que o pesquisador, muitas vezes, nem sabia que existiam, bem como, auxiliar nas pesquisas.


Em alguns ambientes mais competitivos, como aqueles em que demanda processos de comunicação científica, alto nível de complexidade e análise necessária para satisfazer necessidades de informações específicas e urgentes exigem que o bibliotecário adote uma abordagem mais personalizada e estabeleça relações de trabalho próximas dos usuários dos seus serviços (ALCARAZ, 2012; SHUMAKER, 2012; BERTOLINI, 2013, ALONSO-ARÉVALO, 2020). Entende-se que pesquisadores e bibliotecários podem trabalhar juntos para aprimorar suas habilidades e, consequentemente, melhorar a qualidade dos resultados das pesquisas, proporcionando mais confiabilidade em diferentes áreas.


O embedded Librarian pode atuar em todos os tipos de bibliotecas, escolares, públicas, universitárias, jurídicas ou de empresas. A obra de Reale (2016) serve como um exemplo de como os bibliotecários podem trabalhar para se estabelecer em novas funções dentro da universidade, abordando as formas de atuação proativas dos bibliotecários, em vez de apresentarem-se reacionários, buscando parcerias com professores e programas acadêmicos, em vez de esperar por convites para colaborar, iniciando por meio de conversas com colegas do corpo docente e formando parcerias pedagógicas que, certamente, podem melhorar o método de aprendizagem dos docentes.


O livro editado por Daugherty e Russo (2013) remontam uma coleção de estudos de autores que explicam os benefícios e desafios dos bibliotecários universitários inseridos em um ambiente de ensino superior. Eles trazem as perspectivas e a experiência de profissionais que colocaram em prática e experimentaram um curso integrado, evidenciando insights sobre várias facetas do assunto, incluindo uma breve história da embedded Librarianship, o papel da colaboração do corpo docente, o impacto da tecnologia e a avaliação, gestão e sustentabilidade da biblioteconomia incorporada.


Os defensores do embedded librarian insistem na premissa de que os bibliotecários devem se tornar parte integrada do todo e estar verdadeiramente inseridos no contexto em que trabalham (SHUMAKER, 2012). Segundo kinner (2013), os bibliotecários devem mudar do modelo tradicional de serviço para os novos modelos de parceria, trabalho em equipe e colaboração com suas comunidades. Assim, poderá atuar como tutor para o ensino e aprendizado de alunos dos primeiros anos, com assistência a universitários para formação a distância, integração com redes sociais, no intuito de divulgar as atividades do curso entre outras atividades. Contudo, eis o questionamento: quando se trata do embedded librarian estamos abordando um perfil profissional inovador ou de um papel que já deveria estar em prática nas atividades do bibliotecário?


Referências


ALONSO-ARÉVALO, J., LÓPEZ MELGUIZO, I. El bibliotecario de enlace: un novedoso perfil en la biblioteca universitaria y de investigación. Desiderata, n. 15, p. 103-11, 2020. Disponível em: https://gredos.usal.es/handle/10366/143826. Acesso em: 12 jan. 2021.


BERTOLINI, M. V. Embedded librarians: bibliotecarios “integrados” o “incrustados” en la organización. Infotecários, 11 feb. 2013. Disponível em: https://www.infotecarios.com/embedded-librarians-bibliotecarios-integrados-o-incrustados-en-la-organizacion/#.YAB2S-hKjIU. Acesso em: 10 jan. 2020.


CARIDAD-SEBASTIÁN, M. ; MARTÍNEZ-CARDAMA, S. El bibliotecario integrado en el aprendizaje universitario. El profesional de la información, v. 22, n. 2, p. 149-154, mar./abr, 2013. DOI: https://doi.org/10.3145/EPI. Disponível em: http://profesionaldelainformacion.com/contenidos/2013/marzo/09.html. Acesso em: 12 jan. 2021. CASTRO, C. A. Biblioteca como lugar de memória e eco de conhecimento: um olhar sobre “O Nome da Rosa”. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 4, p. 1-20, 2006. DOI: 10.20396/rdbci.v4i3.2026. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/2026. Acesso em: 14 jan. 2021.


DAUGHERTY, A.; RUSSO, M. F. (Ed.). Embedded librarianship: what every academic librarian should know. Santa Barbara, CA: Libraries Unlimited, 2013. xi, 201 p. DOI: https://doi.org/10.1080/07317131.2014.908658.


FOUCAULT, M. Des espaces autres (1967), Hétérotopies. Architecture, Mouvement, Continuité, Paris, n. 5, p.46-49. oct. 1984. Disponível em: http://Foucault,Michel.info/documents/Foucault.hereroTopia.en.html. Acesso: 14 jan. 2021.

GROGAN, Denis. A prática do serviço de referência. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 1995. 196p.


REALE, M. Becoming an embedded librarian: making connections in the classroom. Chicago, IL: ALA, 2016. 104 p. DOI: 10.1080/02763869.2017.1260339.


SHUMAKER, D. The embedded librarian: innovative strategies for taking knowledge where it's needed. Medford, NJ: Information Today, 2012. 212 p. KINNER, L. E. Technical Services Quarterly , v. 30, n. 2, p. 249-250, 2013. Disponível em: https://doi-org.ez27.periodicos.capes.gov.br/10.1080/07317131.2013.760380. Acesso em: 12 jan. 2020.


SHUMAKER, D.; TALLEY, M. Models of embedded librarianship: research summary. Information outlook, v. 4, n. 1, p. 27-35, Jan./Feb., 2010.


Como citar:

RIBEIRO, N. C. Embedded librarian: rompendo as barreiras da função do bibliotecário guardião do conhecimento. Ciência da Informação Express, [S. l.], v. 2, n. 1, 19 jan. 2021. DOI: DOI: 10.13140/RG.2.2.27419.18725. Disponível em: https://www.cienciadainformacaoexpress.com/post/embedded-librarian-rompendo-as-barreiras-da-fun%C3%A7%C3%A3o-do-bibliotec%C3%A1rio-guardi%C3%A3o-do-conhecimento.


Dados biográficos do autor

Doutorando em Gestão e Organização do Conhecimento pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Administração, linha de pesquisa em Gestão Estratégica, Marketing e Inovações. Graduação em Biblioteconomia (2002) e Especialista em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação pelo Centro Universitário de Formiga (2006). tualmente é Bibliotecário da Universidade Federal de Lavras.

E-mail: zoopas@gmail.com



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