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Decolonizando a Organização do Conhecimento: conceitos, teorias e epistemologias de Abya Yala

por Dirnele Carneiro Garcez *


O enfrentamento a lógicas colonizadoras hegemônicas que promovem violências epistêmicas e injustiças sociais precisa ser fortalecido no campo da Organização do Conhecimento, e para isso é necessário adotarmos uma postura decolonial.

Fonte: Duque Cardona e Silva (2020).

O conhecimento científico possui uma estrutura teórica definida que inclui conceitos, afirmações gerais e a inter-relação entre eles (RENDÓN ROJAS, 2008). No entanto, dentro de cada campo científico existem delimitações que acabam por auxiliando na definição do que Foucault (1984) intitula de regime de verdade dominante.


A Europa concentrou sob sua vertente hegemônica a gestão das formas de controle das subjetividades, das culturas e da produção de conhecimentos (QUIJANO, 2005), e por muito tempo esse domínio simbólico dos saberes estadunidenses e europeus criou discursos que acabaram por invisibilizar os conhecimentos de outros povos, o qual impossibilita a ecologia de saberes (SANTOS, 2007) na produção do conhecimento.


Quando analisamos o campo teórico da Organização do Conhecimento, não encontramos consenso a respeito de sua definição. Dessa forma, consideramos a Organização do Conhecimento como um espaço investigativo autônomo, que guarda fortes relações de dialogicidades com a Ciência da Informação e que precisa urgentemente se abrir para o enfrentamento do processo colonizador do conhecimento, bem como de sua ordenação colonizadora.


Na busca por critérios para a construção de um corpus de análise que visa compreender quais são os estudos decoloniais em Organização do Conhecimento, foram estabelecidos três pontos que orientarão nossa busca por abordagens decoloniais na produção científica de Organização do Conhecimento de Abya Yala. Sendo eles: a) Discussões sobre opressões, sub-representações e relações de poder e dominação contra populações colocadas à margem; b) Discussões sobre produções de conhecimentos de populações geograficamente privilegiadas (norte global), mas que estão à margem das sociedades que pertencem; e c) Reflexão crítica à colonialidade e proposta da decolonialidade como alternativa de enfrentamento (GARCEZ; SALES, 2021).


Dessa forma, observamos que, a decolonialidade está presente no campo da Organização do Conhecimento, ainda que de forma incipiente, não somente pela utilização de termos como “decolonial”, “decolonialidade” ou “descolonização”, mas, também, quando ocorre a presença de populações que confrontam o lugar epistêmico que grupos hegemônicos as colocam.


Conforme análise realizada (GARCEZ; SALES, 2021) foi possível constatar que a decolonização na Organização do Conhecimento vem sendo fruto de pesquisas que se propõem aos desafios de decolonizar instrumentos e processos do campo profissional e epistemológico, e que deseuropeização de instrumentos de descrição e as formas representação de povos, religiões e línguas marginalizadas nos sistemas de Organização do Conhecimento têm sido o caminho trilhado por nossos pesquisadores na busca de um campo decolonizado.


Consideramos que assim será possível estabelecer uma Organização do Conhecimento potencialmente liberada do colonialismo epistêmico, direcionando os esforços para a concepção de uma epistemologia própria, capaz de lidar efetivamente com os problemas socioculturais impostos na nossa realidade, que, numa perspectiva teórico-crítica, contribuirá ao movimento decolonizador.


Referências


CHALMERS, A. F. O que é a ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.


FOUCAULT, M. História da sexualidade: o uso dos prazeres 2. Rio de Janeiro: Graal, 1984.


DUQUE CARDONA, N.; SILVA, F. C. G. da. Epistemologias latino-americanas na biblioteconomia e Ciência da informação: contribuições da Colômbia e do Brasil. Florianópolis: Rocha Gráfica e Editora, 2020.


GARCEZ, D. C.; SALES, R. Decolonizando a Organização do Conhecimento: um olhar do periódico Knowledge Organization (2000-2020). Tendências da pesquisa brasileira em Ciência da Informação, [s.l.], v. 14, p. 1-21, 2021.


QUIJANO, A. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires, CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf. Acesso em: 10 ago. 2020.


RENDÓN ROJAS, M. Á. Ciencia bibliotecológica y de la información en el contexto de las ciencias sociales y humanas. Epistemología, metodología e interdisciplina. Investigación bibliotecológica, Ciudad de México, v. 22, n. 44, p. 65-76, abr. 2008.


SANTOS, B. S. Para além do Pensamento Abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, n. 79, nov. 2007.


Dados biográficos da autora

* Doutoranda sob orientação do Professor Doutor Rodrigo de Sales em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCIN/UFSC com bolsa CAPES-DS - Código de Financiamento 001. Mestra em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCIN, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (2018.1-2020.1). Bacharela em Administração pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci.


dirnele.garcez@yahoo.com.br

https://orcid.org/0000-0002-3061-9352

 

Como citar:


GARCEZ, D. C. Decolonizando a Organização do Conhecimento: conceitos, teorias e epistemologias de Abya Yala. Ciência da Informação Express, [S. l.], v. 3, 18 ago. 2022.

 

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