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As cinco escolas ou correntes de pensamento da Ciência Aberta: entrevista com Benedikt Fecher

Atualizado: 29 de abr. de 2022

English version Entrevista / Interview

Benedikt Fecher dirige o programa de pesquisa “Conhecimento e Sociedade” no Instituto Alexander von Humboldt para Internet e Sociedade (HIIG), desde 2017. O programa trata de tópicos na interseção entre a ciência e a digitalização, bem como educação e digitalização. Benedikt também é co-editor do blog “Elephant in the Lab", que faz uma análise crítica do sistema científico, e faz parte do conselho editorial da revista de acesso aberto “Publications”. Na sua investigação, Benedikt lida com questões de governação da ciência e inovação, em particular com os tópicos do impacto e terceira missão, Ciência Aberta / Acesso Aberto e infraestruturas de investigação. Em 2017, Benedikt concluiu seu doutorado no UdK Berlin. No doutorado, abordou as premissas da oferta aberta e da reutilização de dados abertos de pesquisa na ciência. Durante seu doutorado, ele esteve envolvido na criação de um repositório de dados de pesquisa como funcionário de infraestrutura de pesquisa no DIW Berlin. Além disso, de 2012 a 2017, ele foi pesquisador associado no projeto líder “Open Science” no HIIG, que, em 2016 recebeu o prêmio de “Outstanding Place in the Land of Ideas” do Deutsche Bank e do Ministério Federal de Educação e Pesquisa. Em 2016, Benedikt também foi assessor científico para os temas de acesso aberto, dados de pesquisa e bibliotecas na Associação Leibniz e DARIAH-DE Fellow no Instituto Max Planck de História da Ciência. Juntamente com Prof. Dr. Sascha Friesike, em 2013, propuseram estruturar a Ciência Aberta em cinco escolas de pensamento, a saber: a Escola Pública (Public School), a Escola Democrática (Ddemocratic School), a Escola pragmática (Pragmatic School), a Escola de infraestrutura (Snfrastructure School) e a Escola das Métricas (Measurement School).

Tradução de Santos e Ribeiro (2021)


Para saber mais sobre o autor, acesse: https://www.hiig.de/en/benedikt-fecher/


Gentilmente, Benedikt Fecher concedeu uma breve entrevista ao Ciência da Informação Express - CIEXpress, sobre as cinco escolas de pensamento da Ciência Aberta e o futuro da ciência. O autor comentou sobre as mudanças ocorridas desde a sua publicação seminal, as escolas que mais evoluíram, ainda fez recomendações para autores em início de carreira e muito mais. Confira!


1) O que mudou na Ciência Aberta após a publicação de “Open Science: one term, five schools of thought”?

Muita coisa mudou em relação a 2013. A demanda política de um movimento há muito se tornou um princípio reconhecido de governança da ciência que molda as agendas de pesquisa de países inteiros. Eu até argumentaria que os objetivos fundamentais da Open Science permaneceram os mesmos. Ou seja, usar a tecnologia para tornar a ciência acessível, transparente, inclusiva e eficiente. Porém, também vemos que o termo pode ser instrumentalizado. Um bom exemplo é o surgimento dos modelos de negócios de acesso aberto de ouro das editoras, em que os autores agora pagam em vez dos leitores. Embora seja bom que os artigos desses autores agora estejam acessíveis, esse modelo apresenta novos problemas. Por exemplo, apenas instituições financeiramente fortes podem aderir a esse modelo. Portanto continua sendo importante observar e analisar os desenvolvimentos em torno da Ciência Aberta. No final das contas, acredito, como meu amigo Jon Tennant costumava dizer, que a Ciência Aberta nada mais é do que ciência feita da maneira certa - acessível, verificável e orientada para o bem comum. Precisamos ter um olhar crítico e informado sobre a questão de quem, quando e como a ciência deve estar aberta, a fim de cumprir esses objetivos. A abertura não é um fim em si mesmo.


2) Você esperava o grande impacto dessa publicação no cenário mundial?

Quando trabalhamos nessa publicação, em 2013, não achávamos que ele seria lido por tantos colegas em todo o mundo. O artigo fazia parte de um projeto de livro que meus colegas Sascha Friesike e Sönke Bartling iniciaram. Nosso objetivo nesse capítulo de abertura foi organizar um discurso um tanto confuso em torno da Ciência Aberta. Ao fazermos isso, vasculhando centenas de artigos e documentos de política, percebemos que, embora "Ciência Aberta" seja um termo onipresente e muito discutido, ela é entendida de maneira muito diferente por diferentes atores. Nosso artigo foi bem lido talvez porque a estrutura que oferecemos ajudou a entender e analisar melhor esse movimento e seus objetivos. Também saiu na hora certa, quando o assunto estava ganhando impulso.


3) Depois de tanto tempo, na sua opinião, qual das escolas evoluiu mais e qual precisa de mais atenção da comunidade científica?

Acho que para cada uma das escolas de pensamento algo interessante poderia ser dito sobre como elas mudaram e se desenvolveram nos últimos anos. No caso da "Escola Pública", por exemplo, o hiperfoco na ciência durante a pandemia, mostrando o quão importante a ciência pode ser para os processos de tomada de decisão da sociedade, mas também o quão vulnerável ela pode ser. O que vem à mente com a "Escola Democrática" é o estabelecimento de modelos de negócios de acesso aberto que concedem acesso aos produtos, mas discriminam no acesso à autoria. No caso da “Escola de Infraestrutura”, a multiplicidade de start-ups e iniciativas que buscam apoiar práticas abertas ao longo do ciclo de pesquisa. A questão interessante aqui será em que medida as infraestruturas não comerciais e orientadas para o bem público podem prevalecer sobre as comerciais. Acho que devemos ter cuidado para não reproduzir dependências de alguns grandes editores para novas saídas relevantes, como dados, software ou materiais de ensino. Acho a "Escola de Métricas” particularmente empolgante. Muitos dos problemas na comunicação acadêmica intracientífica e na comunicação científica externa têm a ver com incentivos desalinhados e dependentes do caminho. Precisamos abordar a questão do que significa boa ciência para as sociedades do conhecimento modernas do século 21, como determiná-la e reconhecê-la. Afinal, o reconhecimento é uma moeda forte na economia da reputação científica.


4) Hoje, as cinco escolas de pensamento ainda representam totalmente a Ciência Aberta?

As escolas de pensamento não são estáveis ​​por toda a eternidade. O discurso tem evoluído ao longo do tempo e também as escolas podem precisar de uma atualização, por exemplo, no que se refere à questão de quais fenômenos e práticas elas compreendem. Acho que a questão de quais problemas a abertura pode realmente resolver é a chave para decifrar a Ciência Aberta. Na minha opinião, ainda são quase sempre questões de compreensibilidade, acessibilidade, eficiência e inclusividade.


5) Em quais escolas devemos enquadrar educação aberta e preservação digital?

A educação aberta certamente tem ressonância com a escola democrática, pois se trata do acesso aos outputs (ex: material didático, vídeos etc.) e ainda mais com a escola pública, por ser uma forma de comunicação da ciência. Em geral, o ensino é frequentemente subestimado, mas uma ótima maneira de ter um impacto na sociedade. Minha perspectiva leiga sobre preservação digital é que se trata da disponibilidade permanente de materiais digitais (por exemplo, resultados acadêmicos) e que esse é principalmente um problema de infraestrutura, no sentido de que as questões de localização, licenciamento e documentação desses produtos são primordial. No entanto, não sou especialista em educação aberta e nem em preservação digital.


6) Como você pratica Ciência Aberta atualmente?

Tento tornar minha pesquisa acessível e compreensível. Meus artigos estão todos disponíveis online, geralmente como pré-impressão e como versões finais de acesso aberto. Eu só publico com editores que têm um modelo decente de acesso aberto. Sempre procuro divulgar meus dados; que funciona bem para nossos estudos quantitativos, mas para nossos estudos qualitativos devido a questões de anonimato. Em minha equipe de pesquisa no Instituto Alexander von Humboldt para Internet e Sociedade, também tentamos estar abertos à sociedade e criar projetos de transferência significativos para nossos tópicos de pesquisa. Em nosso blog “Elephant in the Lab", convidamos autores sobre temas importantes e atuais do sistema científico. Organizamos uma escola de verão anual, chamada Impact School, em que jovens cientistas podem aprender como desenvolver um impacto significativo com seu trabalho. E tento deixar minha marca na política e gestão da ciência com minhas pesquisas, onde pode ser útil fazê-lo.


7) Que dificuldades você encontrou?

Não passei por muitas dificuldades porque tenho a sorte de trabalhar em uma instituição que apoia e promove a Ciência Aberta.


8) O que você sugere para jovens pesquisadores?

Desenvolva uma estratégia! É importante que você se envolva com a Ciência Aberta e considere que tipo de abertura é apropriada para sua pesquisa e benéfica para você e outras pessoas. Nem tudo funciona igualmente bem para todos. Pense em qual ponto de um projeto de pesquisa faz sentido envolver outras pessoas e compartilhar materiais e como você pode garantir que seus resultados sejam compreensíveis.


9) E o que você sugere para pesquisadores que estão lutando para mudar?

A maioria dos pesquisadores entende que a Ciência Aberta é uma tautologia. A abertura está profundamente enraizada no método científico e no espírito da ciência. Normas como universalismo, comunalismo ou ceticismo organizado são, em certo sentido, versões de abertura. Para mim, é uma questão de razão para adotar a Ciência Aberta. E é razoável discutir que tipo de abertura é adequada para a disciplina específica ou tipo de pesquisa. Na minha experiência, é importante que instituições e comunidades científicas promovam essas discussões.


Referências


FECHER, B.; FRIESIKE, S. Open Science: one term, five schools of thought. In: BARTLING, S.; FRIESIKE, S. (orgs.). Opening Science: the evolving guide on how the internet is changing research, collaboration and scholarly publishing. New York: Springer, 2014. p. 17-47. DOI https://doi.org/10.1007/978-3-319-00026-8_2. Acesso em: 3 jan. 2022.


FECHER, B.; FRIESIKE, S. Open Science: one term, five schools of thought. The RatSWD Working Papers, [s.l.], n. 218, 2013. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=2272036. Acesso em: 3 jan. 2022.


SANTOS, S. R. O.; RIBEIRO, N. C. Cinco escolas de pensamento da Ciência Aberta. figshare, 2020. Figure. Disponível em: https://doi.org/10.6084/m9.figshare.12719333.v2. Acesso em: 3 jan. 2022.

 

​Como citar


FECHER, Benedikt. As cinco escolas ou correntes de pensamento da Ciência Aberta: entrevista com Benedikt Fecher. [Entrevista cedida a] Nivaldo Calixto Ribeiro. Ciência da Informação Express, [S. l.], v. 3, n. 1, 6 jan. 2022.

 

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Agradecimento






Agradecimentos a Benedikt Fecher pela gentileza em responder as questões nessa breve entrevista.


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